Apoiar a agressão de Edílson é hipocrisia, estupidez e masoquista

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Qualquer pessoa que tenha consciência cívica jamais poderia aplaudir a agressão de Edílson ao Rodrigo Dourado, no Grenal 411 realizado neste domingo (23) na Arena. Tal gesto passa longe da tolerância da rivalidade de um dos maiores clássicos de futebol do planeta e entra no campo da estupidez, hipocrisia e egoismo a ponto de não pensar no próprio clube que ama. No fim, tudo sai prejudicado, a civilidade e o Grêmio, que deve perder o jogador por várias partidas pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).

O próprio Edílson, em entrevista coletiva cedida um dia depois do jogo, admitiu que errou ao fazer tal gesto. No fim, ele sabe que prejudicou o Grêmio com o andamento do Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil, caso o time de Renato Portaluppi passe às finais. Dificilmente o atleta escapará de uma pesada pena do STJD, após fazer três tentativas flagrantes de soco no jogador colorado.

Portanto, aplaudir essa irresponsabilidade de Edílson chega a ser autoflagelante, visto que o clube perderá um atleta provavelmente para o restante da temporada, brigando por vaga na Copa Libertadores de 2017 via Campeonato Brasileiro e pelo título da Copa do Brasil.

Infelizmente, muitas páginas das redes sociais exaltam a agressão do lateral direito como se ele fosse um novo ídolo, banalizando de forma ignorante a idolatria que se dá a um atleta e esquecendo como os nossos antigos ídolos foram formados, com títulos, habilidades e força de vontade em momentos decisivos.

Antes o problema fosse apenas o futebol, mas quem apoia esse gesto. com certeza tem problemas para conviver em sociedade. A partir do momento em que uma agressão boba, fútil e burra passa a ser motivo de aplausos, é porque algo está muito realmente errado com nós.

E desculpem, usar como argumento de que colorados fizeram o mesmo com a cotovelada de William ao rosto de Miller Bolaños no Grenal 409, pelo Campeonato Gaúcho, é outra estupidez, como se um erro justificasse outro, uma agressão justificasse outra, uma ação antidesportiva justificasse outra. Não vivemos em uma sociedade “olho no olho e dente por dente”, ou ao menos não deveríamos, pois podemos ser melhores que isso.

Brasileiro’16: Grenal 411 é marcado por jogo feio, reclamações e um justo 0x0

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Foto: Lucas Uebel/Grêmio FPBA

O Grenal 411 foi pegado, polêmico e marcado por confusão, mas tecnicamente ruim, justificando as posições despretensiosas de Grêmio e Internacional no Campeonato Brasileiro de 2016. Enquanto os comandados de Renato Portaluppi ficam apenas com a oitava colocação, o time de Celso Roth se contenta a respirar aliviado por se afastar ainda mais da zona de rebaixamento, na qual se observa Vitória, Figueirense e Sport fazerem mais força para jogar a Série B em 2017.

Impressionante como o Grêmio construiu o seu planejamento na temporada para no fim ser tão dependente de Douglas, poupado por Renato, visando o duelo contra o Cruzeiro pela partida de ida das semifinais da Copa do Brasil nesta quarta-feira (26), no Mineirão. Certo, o time perdeu Giuliano ao futebol russo, o equatoriano Miller Bolaños ainda não encantou. No entanto, um time jamais pode ser tão dependente de uma peça no setor de criação. Sem o camisa 10, o time de Renato pouco criava no setor ofensivo.

Problema existente nos dois lados, uma vez que para nossa sorte, o Internacional sequer tem hoje uma peça como Douglas no elenco. O time colorado depende exclusivamente de lapsos de bom futebol de Valdivia e de Vitinho. O que não é confortante, pois enquanto a dupla Grenal se contentar com a mediocridade do outro, o futebol gaúcho seguirá fardado a um papel secundário nos gramados brasileiros. Até por isso que o Estado está há 15 anos sem um título nacional.

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Foto: Lucas Uebel/Grêmio FPBA

Pelo Grêmio, somente melhoramos quando Rodrigo Dourado foi expulso (abordarei isso logo abaixo) e assim Roth se viu obrigado a tirar Valdívia de campo. Dessa forma, Maicon passou a ter maior liberdade em atuar no setor ofensivo, organizando as jogadas e resultando em blitz gremista na área do goleiro Danilo Fernandes na etapa final, até ser substituído por Guilherme. O Tricolor teve esboços de pressão, mas na verdade, o 0x0 na Arena era o placar mais justo.

De futebol, não há muito o que escrever, apenas lamentar as atuações apagadas de Bolaños e Pedro Rocha. Luan até se esforçou, mas está aquém do que pode. Positivamente, fico satisfeito com Walace, Pedro Geronal e Kannemann. É provável, seja uma esperança movida à lógica ou por uma fé, que a atuação do time melhorará diante do Cruzeiro em Belo Horizonte, porém, preocupa-me a displicência do Grêmio na criação de jogadas, erros de passes e falhas na finalização, algo que vimos contra o Palmeiras no Allianz Parque, pelas quartas-de-final da Copa do Brasil.

Se não há o que comentar sobre futebol, o Grenal 411 tem muito a se abordar sobre confusão e arbitragem. A participação do árbitro alagoano Francisco Carlos Nascimento é digno de repúdio dos dois lados. Ele travou demais o jogo, pouco aplicou cartões quando deveria no primeiro tempo e decidiu mostrar serviço na etapa final. Na confusão, ninguém entendeu a decisão de expulsar Rodrigo Dourado e isentar Vitinho de um cartão vermelho, no chute em Kannemann no chão, lance que originou todo embate.

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Foto: Lucas Uebel/Grêmio FPBA

Não tenho nada a comemorar sobre o lance em que Edílson esmurrou Dourado, ao contrário, ele teve a expulsão merecida e foi irresponsável, como pessoa, como cidadão e como funcionário do Grêmio, uma vez que não apenas ficará ausente na próxima partida contra o Figueirense, em Florianópolis, mas pode ser suspenso por até 12 jogos pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) pela agressão. Aliás, louvar esse gesto do lateral-direito é uma grande estupidez.

Assim como há hipocrisia pelo lado colorado também, pois quando William agrediu Bolaños, no Grenal 409, ainda pelo Campeonato Gaúcho, muitos torcedores pelas bandas do Beira-Rio exaltaram o feito. Inclusive, o Internacional usou o jogador como peça publicitária dias depois, dando indiretamente apoio institucional ao gesto do atleta. E por favor, não me venham falar que aquilo foi lance de jogo, pois não foi, e sim se caracterizou em uma agressão absurda que obrigou o equatoriano a fazer cirurgia.

A única nota boa do clássico 411 é com toda certeza o público na Arena, com 53.287 pessoas no estádio. Mesmo com o empate sem gols, o Grêmio segue a um ponto do G-6, em oitavo com 48 pontos, enquanto o Corinthians fecha a zona de classificação para Libertadores com 49. Já o Internacional segue com 37, começa a se afastar da zona de rebaixamento e deve confirmar essa tendência diante do praticamente rebaixado Santa Cruz no Beira-Rio, pela próxima rodada.